Fotos: CMO
Família real solidária
Também de recuada época, mas já directamente relacionada com a existência da Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Odivelas, fundada em 29 de Junho de 1897, permitimo-nos destacar a ligação da instituição ao Infante D. Afonso de Bragança, Duque do Porto, irmão mais novo do Rei D. Carlos.
Decorrente do processo fundacional, e uma vez Comandante Honorário dos Bombeiros Voluntários da Ajuda, foi-lhe solicitado apoio com vista à cedência de material de combate a incêndios que se encontrava no Palácio da Ajuda.
Do mesmo modo, os fundadores dos Bombeiros Voluntários de Odivelas (Mateus Gregório Rodrigues da Costa, Vítor Augusto Gomes da Encarnação, Padre Delfim Simões Amaro, Dr. Lourenço José Antunes, Joaquim Pires Mendes, José Rodrigues Mendes, Alexandre Gomes do Souto, António dos Santos Revesso e Luís dos Santos Barbosa) entenderam recorrer à solidariedade da Rainha D. Maria Pia, a fim da aquisição de uniformes.
Ao longo da narrativa propriamente dita, a autora não confirma que tais pretensões tenham sido satisfeitas. Antes, porém, no texto introdutório, menciona que o Infante D. Afonso concedeu o seu patrocínio à fundação da Associação e exerceu influência junto de sua mãe para a oferta dos primeiros veículos (de tracção animal e braçal). Por conseguinte, como reconhecimento, mereceu ser distinguido com o título de Presidente Honorário.
Relativamente ao termo "Real" utilizado na denominação institucional, levanta-se-nos uma dúvida: Quem deu autorização para o efeito? Sabe-se que no caso de outras associações o facto dependeu, por exemplo, do consentimento do Rei D. Carlos, outorgando os correspondentes alvarás.
Fazer perguntas sobre o passado e obter respostas constituem duas das mais desafiantes funções do historiador. Com efeito, no virar de cada página de "125 Anos dos Bombeiros Voluntários de Odivelas", porque a história é longa e profusa, torna-se inevitável exercitar a curiosidade intelectual.
É uma das mais recentes monografias de bombeiros publicadas no país e também a que mais recentemente mereceu a nossa análise crítica. Referimo-nos ao livro "125 Anos dos Bombeiros Voluntários de Odivelas", da autoria de Maria Alexandra Lopes, editado pela Câmara Municipal de Odivelas (CMO).
Trabalho de investigação a todos os títulos louvável, trata-se de uma obra cuja leitura suscita o interesse em torno do aprofundamento de temas sumariamente tratados e de outros não apresentados.
A autora concebeu uma estrutura marcadamente académica, o que é discutível, considerando várias contextualizações, em nome da melhor compreensão dos factos, sua origem e relação com o meio social envolvente.
A nosso ver, o livro reserva espaço e pormenor excessivos a certos aspectos da actualidade, em detrimento de vertentes e especificidades passadas do associativismo e do voluntariado que justificariam, para conhecimento do público, outro tipo de abordagem sobre a evolução verificada ao longo dos tempos, tanto no serviço de incêndios como no serviço de saúde.
Em todo o caso, reiteramos o mérito da sua autora e da CMO, assim como registamos, ao nível gráfico, a excelente qualidade do produto final.
Merece-nos particular destaque o facto, bem documentado, acerca da aplicação, em 1861, na freguesia de Odivelas, ao tempo integrada no concelho de Belém, da tabela que definia o número de badaladas de alerta de incêndio. Neste particular o número era de 38, utilizando-se para o efeito a torre sineira da igreja paroquial. Por sua vez, a casa do regedor era equiparada a estação de incêndios, ao abrigo de um conjunto de normas publicadas em edital da Câmara Municipal de Belém (CMB), datado de 6 de Junho do mencionado ano. A propósito, de relevar que existiam no concelho três bombas, localizadas em tantos outros pontos estratégicos (Alcântara, no princípio da Calçada da Tapada; na Junqueira, nas instalações da Cordoaria Nacional; e na Boa Hora à Ajuda, nos Paços do Concelho, onde também estava estacionado um carro de escadas e ferramentas). Perante a inexistência de aguadeiros, o manuseamento de todo este material estava a cargo de pessoal voluntário, na condição de serventes de incêndios, cuja matrícula poderia ser efectuada nos serviços da Inspecção de Incêndios do Concelho de Belém. A título de incentivo à resposta aos sinais de alarme, comparecendo nos locais de incêndio, estava previsto o pagamento de valores pecuniários, consoante diferentes requisitos.
Maria Alexandra Lopes avança ainda que a partir de 1888, já na jurisdição da Câmara Municipal de Loures (o concelho de Belém existiu no período de 1852 a 1885), Odivelas passou a dispor de um espaço arrendado destinado ao estacionamento de uma bomba e da concentração de utensílios de combate a incêndios. Embora não adiante, é muito provável que se tratasse, no seu conjunto, de material adquirido anteriormente pela CMB, porquanto o edital de 1861, previa "que à proporção que as machinas, que ainda faltam, se forem apromptando, assim se annunciará, bem como as localidades aonde forem estacionadas”, bem como “que a cada bomba, além dos apparelhos que lhe dizem respeito, ficam pertencendo quarenta baldes de lona, dez barris e uma carroça com pipa, que acompanhará a machina, e a servirá sempre que ella saia para serviço".
Primeiras bombas manuais de combate a incêndios estacionadas defronte do primeiro quartel-sede, situado numa dependência pertencente ao Mosteiro de São Dinis e São Bernardo (início do século XX)
A autora concebeu uma estrutura marcadamente académica, o que é discutível, considerando várias contextualizações, em nome da melhor compreensão dos factos, sua origem e relação com o meio social envolvente.
A nosso ver, o livro reserva espaço e pormenor excessivos a certos aspectos da actualidade, em detrimento de vertentes e especificidades passadas do associativismo e do voluntariado que justificariam, para conhecimento do público, outro tipo de abordagem sobre a evolução verificada ao longo dos tempos, tanto no serviço de incêndios como no serviço de saúde.
Em todo o caso, reiteramos o mérito da sua autora e da CMO, assim como registamos, ao nível gráfico, a excelente qualidade do produto final.
Merece-nos particular destaque o facto, bem documentado, acerca da aplicação, em 1861, na freguesia de Odivelas, ao tempo integrada no concelho de Belém, da tabela que definia o número de badaladas de alerta de incêndio. Neste particular o número era de 38, utilizando-se para o efeito a torre sineira da igreja paroquial. Por sua vez, a casa do regedor era equiparada a estação de incêndios, ao abrigo de um conjunto de normas publicadas em edital da Câmara Municipal de Belém (CMB), datado de 6 de Junho do mencionado ano. A propósito, de relevar que existiam no concelho três bombas, localizadas em tantos outros pontos estratégicos (Alcântara, no princípio da Calçada da Tapada; na Junqueira, nas instalações da Cordoaria Nacional; e na Boa Hora à Ajuda, nos Paços do Concelho, onde também estava estacionado um carro de escadas e ferramentas). Perante a inexistência de aguadeiros, o manuseamento de todo este material estava a cargo de pessoal voluntário, na condição de serventes de incêndios, cuja matrícula poderia ser efectuada nos serviços da Inspecção de Incêndios do Concelho de Belém. A título de incentivo à resposta aos sinais de alarme, comparecendo nos locais de incêndio, estava previsto o pagamento de valores pecuniários, consoante diferentes requisitos.
Maria Alexandra Lopes avança ainda que a partir de 1888, já na jurisdição da Câmara Municipal de Loures (o concelho de Belém existiu no período de 1852 a 1885), Odivelas passou a dispor de um espaço arrendado destinado ao estacionamento de uma bomba e da concentração de utensílios de combate a incêndios. Embora não adiante, é muito provável que se tratasse, no seu conjunto, de material adquirido anteriormente pela CMB, porquanto o edital de 1861, previa "que à proporção que as machinas, que ainda faltam, se forem apromptando, assim se annunciará, bem como as localidades aonde forem estacionadas”, bem como “que a cada bomba, além dos apparelhos que lhe dizem respeito, ficam pertencendo quarenta baldes de lona, dez barris e uma carroça com pipa, que acompanhará a machina, e a servirá sempre que ella saia para serviço".
Primeiras bombas manuais de combate a incêndios estacionadas defronte do primeiro quartel-sede, situado numa dependência pertencente ao Mosteiro de São Dinis e São Bernardo (início do século XX)
Também de recuada época, mas já directamente relacionada com a existência da Real Associação dos Bombeiros Voluntários de Odivelas, fundada em 29 de Junho de 1897, permitimo-nos destacar a ligação da instituição ao Infante D. Afonso de Bragança, Duque do Porto, irmão mais novo do Rei D. Carlos.
Decorrente do processo fundacional, e uma vez Comandante Honorário dos Bombeiros Voluntários da Ajuda, foi-lhe solicitado apoio com vista à cedência de material de combate a incêndios que se encontrava no Palácio da Ajuda.
Do mesmo modo, os fundadores dos Bombeiros Voluntários de Odivelas (Mateus Gregório Rodrigues da Costa, Vítor Augusto Gomes da Encarnação, Padre Delfim Simões Amaro, Dr. Lourenço José Antunes, Joaquim Pires Mendes, José Rodrigues Mendes, Alexandre Gomes do Souto, António dos Santos Revesso e Luís dos Santos Barbosa) entenderam recorrer à solidariedade da Rainha D. Maria Pia, a fim da aquisição de uniformes.
Ao longo da narrativa propriamente dita, a autora não confirma que tais pretensões tenham sido satisfeitas. Antes, porém, no texto introdutório, menciona que o Infante D. Afonso concedeu o seu patrocínio à fundação da Associação e exerceu influência junto de sua mãe para a oferta dos primeiros veículos (de tracção animal e braçal). Por conseguinte, como reconhecimento, mereceu ser distinguido com o título de Presidente Honorário.
Relativamente ao termo "Real" utilizado na denominação institucional, levanta-se-nos uma dúvida: Quem deu autorização para o efeito? Sabe-se que no caso de outras associações o facto dependeu, por exemplo, do consentimento do Rei D. Carlos, outorgando os correspondentes alvarás.
Fazer perguntas sobre o passado e obter respostas constituem duas das mais desafiantes funções do historiador. Com efeito, no virar de cada página de "125 Anos dos Bombeiros Voluntários de Odivelas", porque a história é longa e profusa, torna-se inevitável exercitar a curiosidade intelectual.