E tudo a chuva levou - Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, a queda de forte precipitação causou violentas inundações em toda a região de Lisboa. As consequências foram alarmantes. Rios e ribeiras transbordaram as margens e, na sua sinistra passagem, as águas arrastaram pessoas e tudo mais que apareceu pela frente. Calcula-se que resultaram da intempérie cerca de 700 mortos e milhares de desalojados. Entre as vítimas mortais constaram três jovens e valorosos bombeiros, facto quase sempre ignorado quando se aborda o tema das cheias de 1967. Referimo-nos a José Carlos Ramos Basílio, Cadete dos Bombeiros Voluntários de Alverca, e José Rosa Serra e José António Lourenço Venâncio, respectivamente, Aspirante e Cadete dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, cujos corpos foram encontrados mais tarde.

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sexta-feira, 27 de setembro de 2024

O monumento que faz falta em Lisboa

"FOGO & HISTÓRIA (...) apela aos autarcas de Lisboa para que se detenham, em definitivo, na construção de um monumento esteticamente arrojado que dignifique os bombeiros, a cidade e a própria Câmara."



Lisboa está no epicentro da história do serviço de incêndios em Portugal.

Foi nela que se aplicaram as primeiras medidas preventivas de luta contra o fogo, por proposta do respectivo Senado, promulgadas por carta régia de D. João I, datada de 25 de Agosto de 1395 (593 anos depois deu-se o grande incêndio do Chiado).

Porém, nada de significativo existe no espaço público alusivo ao facto e à actividade que a partir dele emergiu e está na génese do movimento dos bombeiros.

Noutras cidades, com diferente impacto na história, desde a segunda metade do século XX, foram sendo erigidos monumentos em homenagem ao bombeiro, através da iniciativa da sociedade civil e das autarquias locais.

No que respeita a Lisboa, onde se justifica um monumento, tal nunca obteve suficiente expressão e efeitos consequentes.

Temos em nosso poder cópia de uma proposta apresentada pelo Gabinete do Partido Social Democrata, da Câmara Municipal de Lisboa, aprovada por unanimidade no dia 28 de Abril de 1993, tendente a "mandar erigir em local a designar um monumento ao Bombeiro Português".

A referida proposta, registada com o número 197/93, de 23 de Abril, não conheceu qualquer desenvolvimento, ignorando-se a razão que possa ter estado na origem do sucedido.

Saliente-se que ao proposto assistiu também a preocupação e o mérito de associar o munícipio de Lisboa às futuras comemorações dos 600 anos dos bombeiros portugueses, realizadas em 1995, indicando-as como ocasião adequada para a inauguração do monumento.

Sabemos da diligência de um particular, corria o ano de 2016, consubstanciada em lembrar a autarquia para o vazio existente, referindo o mesmo, numa carta dirigida ao Presidente de então, Fernando Medina: 

"Ainda é tempo, porque os Bombeiros merecem a distinção, da Câmara Municipal de Lisboa mandar erguer um monumento em homenagem ao Bombeiro Português, o que não foi feito por sucessivos 'governos' municipais."

Na verdade, não se compreende como um assunto desta natureza caiu no esquecimento.

Passaram 31 anos sobre a aprovação da proposta!

FOGO & HISTÓRIA, na qualidade de "promotor da divulgação e preservação da identidade histórico-cultural do serviço de incêndios e do socorrismo confiado a bombeiros, à luz de um conceito de cidadania activa e responsável", reforça o sentido das palavras acima transcritas e apela aos autarcas de Lisboa para que se detenham, em definitivo, na construção de um monumento esteticamente arrojado que dignifique os bombeiros, a cidade e a própria Câmara.

A Avenida da Ribeira das Naus constitui, do nosso ponto de vista, a artéria indicada para o efeito, num traço de união entre história e memória.

No século XIV, ali se encontrava concentrado o braço armado de atalhar os incêndios - os carpinteiros e calafates dos estaleiros da Ribeira das Naus - razão pela qual, em sentido figurado, é vulgar dizer-se que o local sediou o primeiro quartel de bombeiros do país.

Retome-se o propósito da proposta de outrora e lance-se mãos à obra!

Os bombeiros da capital e de Portugal ficarão, certamente, gratos e reconhecidos pelo tributo que lhes é devido.


Luís Miguel Baptista
Jornalista
lmb.fogo.historia@gmail.com



Foto: Arquivo Municipal de Lisboa