Tempestade de fogo
Apelidado de "Segundo Grande Incêndio de Londres" (por as suas dimensões lembrarem o Grande Incêndio de Londres de 1666), recordamo-lo a propósito da passagem dos 80 anos sobre o fim da II Guerra Mundial. Contextualizando, de 7 de Setembro de 1940 a 10 de Maio de 1941, sucederam-se 57 noites de bombardeamentos por parte da força aérea alemã contra a Grã-Bretanha, com vista à sua rendição: a temerosa campanha Blitz. Porém, foi em 29 de Dezembro de 1940 que ocorreu a maior ofensiva e, por conseguinte, o mais devastador incêndio. Durante todo o seu período, a Blitz causou danos nefastos em Londres e noutras principais cidades, mas, surpreendentemente, não afectou o moral dos ingleses. Um exemplo de resiliência para a humanidade.

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sexta-feira, 27 de junho de 2025

A epopeia dos seis séculos

"Acções comemorativas de variada ordem elevaram o bom nome dos bombeiros de Portugal e mantiveram-nos ainda mais presentes na vida colectiva."



Há 30 anos, os bombeiros de Portugal mergulhavam nas profundezas da sua história, estribados pela data de 25 de Agosto de 1395, que determina a publicação das primeiras providências contra incêndios na cidade de Lisboa, por carta régia de D. João I, "O de Boa Memória".

No Centro Cultural de Belém, próximo do local onde a gente lusa partiu para dar novos mundos ao mundo, tinham início as Comemorações dos 600 Anos dos Bombeiros Portugueses, configuradas numa verdadeira epopeia.

Entre os meses de Janeiro e Novembro de 1995, o país real dos bombeiros mobilizou-se e fez prova do seu vasto património moral e cultural, mediante condições nunca antes vistas.

Aliás, somente quem viveu aquele período está em situação de avaliar o apurado sentimento e a grande capacidade de trabalho, assim como a apreciável criatividade, que presidiram à organização dos vulgarmente designados "600 Anos".

Acções comemorativas de variada ordem elevaram o bom nome dos bombeiros de Portugal e mantiveram-nos ainda mais presentes na vida colectiva.

As Comemorações dos 600 Anos dos Bombeiros Portugueses, realização conjunta do então Serviço Nacional de Bombeiros (SNB) e da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), no âmbito da relação franca, aberta, leal e cooperante que existia entre ambas as entidades, constituíram um marco de afirmação da utilidade pública da missão dos bombeiros.

A evocação histórica de factos e figuras assumiu particular relevância na programação elaborada e cuidadosamente concretizada pela Comissão Executiva da secular efeméride, presidida por Rui Santos Silva, Vogal da Direcção do SNB.

Foi nesse contexto que se verificaram memoráveis acontecimentos, oferecendo-nos destacar, pelo seu natural impacto: as grandes exposições integradas no SEGUREX/95 - Salão Internacional de Protecção e Segurança, na Feira Internacional de Lisboa (FIL), que funcionava limitada ao pavilhão da Junqueira; o desfile histórico, no Estádio 1.º de Maio (INATEL); a celebração do Dia Nacional do Bombeiro, em Lisboa, que incluiu a homenagem da LBP ao rei D. João I, junto à respectiva estátua equestre, na Praça da Figueira; a edição do livro "Bombeiros Portugueses - Seis Séculos de História - 1395-1995", obra coordenada por Francisco Hermínio Santos, cujo lançamento teve lugar também nas instalações da FIL; e a sessão solene de encerramento das comemorações, na Sala do Senado da Assembleia da República.

Algum do mais importante espólio museológico da Liga dos Bombeiros Portugueses, do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e de associações/corpos de bombeiros, confiado temporariamente ao Serviço Nacional de Bombeiros, serviu de atractivo a uma duradoura mostra do passado.

Sob o impulso do momento, passou a ser emitido, na RTP 2, o programa "Vida por Vida", magazine de informação dos bombeiros portugueses, da responsabilidade do SNB e da LBP, com a produção executiva de Miguel Jerónimo e a apresentação de Rogério Bueno de Matos, dois bons amigos e colegas de profissão, o primeiro dos quais já falecido e que aqui recordo e homenageio.

Outros tempos e outras vontades, inclusivamente detectáveis ao nível do próprio Governo, na circunstância o Ministério da Administração Interna, que acolheu e viabilizou o conjunto de iniciativas, pautado pela motivação que dominava o compromisso político em torno do investimento no sector dos Bombeiros.

Hoje, por certo estado de coisas, somos de parecer que seria muito difícil, talvez até impossível, levar a efeito uma comemoração nos mesmos termos de envolvimento e dignidade.

Daí, em parte, a razão deste nosso editorial, contributo para que o conhecimento da história assista às novas gerações e estas tomem consciência de que há 30 e mais anos as lideranças das estruturas dos bombeiros, do alto da sua singular craveira, já eram empreendedoras de jornadas nacionais.


Luís Miguel Baptista
Jornalista
lmb.fogo.historia@gmail.com