Fotos: Arquivo F&H
No desfile apeado e motorizado, com percurso ao longo da Avenida da Liberdade, desde o Parque Eduardo VII, participaram "141 corporações, com 287 viaturas, das quais 174 de combate a incêndios, incluindo uma dezena de auto-tanques, seis auto-escadas, três carros-oficinas, seis viaturas ligeiras especiais e 99 ambulâncias", contabilizou a imprensa.
O comando do mesmo esteve a cargo do Comandante José de Oliveira e Silva, dos Bombeiros Voluntários de Leixões, Secretário da Mesa do Congresso, em representação do Vice-Presidente do órgão, Comandante Honorário Pedro de Albuquerque Barbosa, dos Bombeiros Voluntários Portuenses.
Também segundo os jornais, o público "aclamou vibrantemente" os bombeiros na sua passagem.
Ao tempo existiam, em Portugal, 375 associações e corpos de bombeiros.
Como curiosidade histórica caracterizadora do momento, por razões conjunturais da política em curso conducente ao termo do colonialismo e também de modo a evitar eventuais problemas num período de natural efervescência, os comandantes em representação dos corpos de bombeiros de Angola foram aconselhados a desfilar envergando a farda azul, ao invés da farda branca desde sempre usada naquele tipo de ocasião. "Se não formos de branco, não vamos!"- responderam, inconformados, os comandantes. "E não foram", recorda o blogue de homenagem ao Comandante Armando Cardoso Soares, primeiro dos Bombeiros Voluntários de Sá da Bandeira e depois dos Bombeiros Voluntários do Dafundo.
Estiveram ainda presentes no congresso, na qualidade de convidados, delegados estrangeiros oriundos de Espanha, França, Luxemburgo e Itália.
A elevação na transição de liderança
Dentro do espírito de independência que sempre nos norteou, devemos ter uma palavra de tomada de posição perante a actual forma de governação.
Como já afirmámos mais de uma vez, somos das poucas instituições que não temos de rever a nossa actuação, por ela se manter sempre igual, servindo a pessoa humana, num espírito de fraternidade e abnegação, verdadeiramente ímpares.
E esta atitude firme permite que estejamos à vontade, para colaborar, leal e francamente, com os que nos governam, qualquer que seja a sua orientação política.
Sempre nos convencemos que todos os homens se podem entender, pensem como pensarem, desde que ponham acima de tudo a honestidade das suas convicções, respeitando a opinião alheia, para que a sua seja também respeitada.
Dentro deste espírito de compreensão mútua, podemos saudar os nossos governantes e reafirmar-lhes a nossa lealdade aos princípios que voluntariamente aceitámos.
Resta-nos esperar que encontremos dos que foram agora chamados à difícil missão de nos dirigir, a maior compreensão e receptividade aos nossos problemas, que serão postos sem habilidade ou visando interesses pessoais, mas tão somente o interesse geral, e com o desejo de podermos fazer mais e melhor em benefício de todos os portugueses.
Passaram 50 anos sobre a realização do 21.º Congresso Nacional dos Bombeiros Portugueses.
A primeira reunião magna do sector após o 25 de Abril teve lugar num período atípico, isto é, entre 31 de Outubro e 3 de Novembro de 1974.
A primeira reunião magna do sector após o 25 de Abril teve lugar num período atípico, isto é, entre 31 de Outubro e 3 de Novembro de 1974.
Na ocasião, "os bombeiros portugueses decidiram apresentar ao Governo as conclusões do seu Congresso prevendo a criação dum órgão nacional de socorrismo", enfatizou a comunicação social.
Inicialmente previsto para Castelo Branco e depois Tomar, o congresso acabou por reunir na capital, nas instalações da Feira Internacional de Lisboa, à Junqueira, sendo assim ultrapassadas dificuldades de organização nos dois primeiros locais.
Foi a quarta vez que a cidade das sete colinas acolheu aquele que, de dois em dois anos, era o grande acontecimento dos bombeiros (1948, retomado o evento, depois de interrompido por contingências da II Guerra Mundial; 1962, organizado em conjunto com o II Congresso Mundial do Fogo; 1968, reunido no âmbito das comemorações do centenário da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa).
Apesar do carácter apolítico da Instituição-Bombeiros, o início da democracia institucionalizada em Portugal fez-se repercutir, inevitavelmente, nos trabalhos daquela que veio a ficar marcada como sendo "uma jornada de confraternização do voluntariado e ao mesmo tempo de uma chamada de atenção para os problemas dos bombeiros voluntários portugueses".
O último facto da citação ficou bem espelhado na acutilante tese dos Bombeiros do Distrito de Aveiro, apresentada por David Cristo, Presidente da Direcção da Companhia de Salvação Pública "Guilherme Gomes Fernandes", de Aveiro (Bombeiros Novos), subordinada ao tema "Voluntariado: ainda uma esperança - apesar do quase nada que se fez sobre o muito que se disse".
Na verdade, desde 1970 (Congresso de Aveiro), que os responsáveis pelos bombeiros portugueses vinham exigindo ao poder político a criação dum órgão nacional de socorrismo, não vendo satisfeita esta e outras legítimas aspirações.
Aliás, uma das imagens que apresentamos relativa ao desfile de encerramento, onde se destacam, para a altura, rudimentares e obsoletas viaturas, traduz o sentido das exigências dos congressistas, tal como "o apetrechamento dos corpos de bombeiros com material suficiente para todas as missões: normalizado, eficiente e sempre actualizado".
Paralelamente, e uma vez consideradas outras necessidades, que não apenas um carro e uma mangueira, o congresso clamou, ainda, inspirado na tese de Aveiro: "a promoção social e pessoal do voluntário, concedendo aos homens e às corporações que servem justas regalias", bem como "estimar o voluntário na sua real valia, garantindo-se-lhe amparo suficiente e, a todos os níveis, condigna representatividade".
Foi a quarta vez que a cidade das sete colinas acolheu aquele que, de dois em dois anos, era o grande acontecimento dos bombeiros (1948, retomado o evento, depois de interrompido por contingências da II Guerra Mundial; 1962, organizado em conjunto com o II Congresso Mundial do Fogo; 1968, reunido no âmbito das comemorações do centenário da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa).
Apesar do carácter apolítico da Instituição-Bombeiros, o início da democracia institucionalizada em Portugal fez-se repercutir, inevitavelmente, nos trabalhos daquela que veio a ficar marcada como sendo "uma jornada de confraternização do voluntariado e ao mesmo tempo de uma chamada de atenção para os problemas dos bombeiros voluntários portugueses".
O último facto da citação ficou bem espelhado na acutilante tese dos Bombeiros do Distrito de Aveiro, apresentada por David Cristo, Presidente da Direcção da Companhia de Salvação Pública "Guilherme Gomes Fernandes", de Aveiro (Bombeiros Novos), subordinada ao tema "Voluntariado: ainda uma esperança - apesar do quase nada que se fez sobre o muito que se disse".
Na verdade, desde 1970 (Congresso de Aveiro), que os responsáveis pelos bombeiros portugueses vinham exigindo ao poder político a criação dum órgão nacional de socorrismo, não vendo satisfeita esta e outras legítimas aspirações.
Aliás, uma das imagens que apresentamos relativa ao desfile de encerramento, onde se destacam, para a altura, rudimentares e obsoletas viaturas, traduz o sentido das exigências dos congressistas, tal como "o apetrechamento dos corpos de bombeiros com material suficiente para todas as missões: normalizado, eficiente e sempre actualizado".
Paralelamente, e uma vez consideradas outras necessidades, que não apenas um carro e uma mangueira, o congresso clamou, ainda, inspirado na tese de Aveiro: "a promoção social e pessoal do voluntário, concedendo aos homens e às corporações que servem justas regalias", bem como "estimar o voluntário na sua real valia, garantindo-se-lhe amparo suficiente e, a todos os níveis, condigna representatividade".
Ansiava-se, no fundo, mais do que nunca, pela "verdadeira reestruturação dos bombeiros portugueses", tendo por base os ventos de mudança e os sinais de uma nova sensibilidade governativa perante os problemas do voluntariado, de resto, bem sintomática nas expressivas palavras do Ministro da Administração Interna, Tenente-Coronel Manuel da Costa Braz, proferidas na sessão solene de abertura do congresso:
"Participante numa revolução, feita sem tiros para a construção de um País digno e revitalizado, com responsabilidades no Governo, nessa construção, desejo aqui realçar também os extraordinários exemplos que nos são dados pela vossa actividade: a plena dedicação à proteccão civica, que queremos ver desenvolvida, na defesa das pessoas e bens da sociedade em que nos inscrevemos; a solidariedade social, em que são combatentes de primeira linha; o altruísmo e abnegação de que se reveste qualquer das vossas formas de intervenção. Exemplos mais que suficientes para que toda uma população, todo um País, vos considere gente de bem."
Por influência directa da Liga dos Bombeiros Portugueses, entretanto organizada em federações distritais, e de um dirigismo proactivo sem precedentes, após o Congresso de Lisboa veio a despontar, a nível nacional, uma nova era no seio da Instituição-Bombeiros.
Não se pense, porém, que o atendimento às pretensões dos bombeiros portugueses, por parte dos governos provisórios e dos primeiros constitucionais, aconteceu de imediato.
Os congressos subsequentes, de 1976 (Guarda, local escolhido no decorrer dos trabalhos de Lisboa) e de 1978 (Estoril), colocaram à prova a resiliência de grandes dirigentes, na luta pela conquista de novas condições de vida e de trabalho para as associações e corpos de bombeiros, valendo-se da firmeza das suas tomadas de posição, pontificadas pela substância das ideias.
Aliás, o Congresso do Estoril foi pródigo nesse aspecto, influenciando uma sucessão de acontecimentos que, em 1979, vieram determinar a institucionalização do Serviço Nacional de Bombeiros (SNB), organismo que, não sendo perfeito mas acompanhado de adequada legislação para o sector e agindo no escrupuloso respeito pelo interesse dos bombeiros portugueses e do país, guindou, progressivamente, até à sua incompreensível extinção, no ano de 2003, os corpos de bombeiros a um patamar nunca antes visto de modernidade e eficácia.
Notas à margem
Tal como já recordado, a abertura do 21.º Congresso contou com a presença do Ministro da Administração Interna, Tenente-Coronel Manuel da Costa Braz, que presidiu à respectiva sessão, enquanto o encerramento teve como alta autoridade, em representação do Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes, o Chefe da Casa Militar, General Fontes Pereira de Melo."Participante numa revolução, feita sem tiros para a construção de um País digno e revitalizado, com responsabilidades no Governo, nessa construção, desejo aqui realçar também os extraordinários exemplos que nos são dados pela vossa actividade: a plena dedicação à proteccão civica, que queremos ver desenvolvida, na defesa das pessoas e bens da sociedade em que nos inscrevemos; a solidariedade social, em que são combatentes de primeira linha; o altruísmo e abnegação de que se reveste qualquer das vossas formas de intervenção. Exemplos mais que suficientes para que toda uma população, todo um País, vos considere gente de bem."
Por influência directa da Liga dos Bombeiros Portugueses, entretanto organizada em federações distritais, e de um dirigismo proactivo sem precedentes, após o Congresso de Lisboa veio a despontar, a nível nacional, uma nova era no seio da Instituição-Bombeiros.
Não se pense, porém, que o atendimento às pretensões dos bombeiros portugueses, por parte dos governos provisórios e dos primeiros constitucionais, aconteceu de imediato.
Os congressos subsequentes, de 1976 (Guarda, local escolhido no decorrer dos trabalhos de Lisboa) e de 1978 (Estoril), colocaram à prova a resiliência de grandes dirigentes, na luta pela conquista de novas condições de vida e de trabalho para as associações e corpos de bombeiros, valendo-se da firmeza das suas tomadas de posição, pontificadas pela substância das ideias.
Aliás, o Congresso do Estoril foi pródigo nesse aspecto, influenciando uma sucessão de acontecimentos que, em 1979, vieram determinar a institucionalização do Serviço Nacional de Bombeiros (SNB), organismo que, não sendo perfeito mas acompanhado de adequada legislação para o sector e agindo no escrupuloso respeito pelo interesse dos bombeiros portugueses e do país, guindou, progressivamente, até à sua incompreensível extinção, no ano de 2003, os corpos de bombeiros a um patamar nunca antes visto de modernidade e eficácia.
Notas à margem
No desfile apeado e motorizado, com percurso ao longo da Avenida da Liberdade, desde o Parque Eduardo VII, participaram "141 corporações, com 287 viaturas, das quais 174 de combate a incêndios, incluindo uma dezena de auto-tanques, seis auto-escadas, três carros-oficinas, seis viaturas ligeiras especiais e 99 ambulâncias", contabilizou a imprensa.
O comando do mesmo esteve a cargo do Comandante José de Oliveira e Silva, dos Bombeiros Voluntários de Leixões, Secretário da Mesa do Congresso, em representação do Vice-Presidente do órgão, Comandante Honorário Pedro de Albuquerque Barbosa, dos Bombeiros Voluntários Portuenses.
A reputada Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Arrifana abriu o desfile, conferindo um brilho especial, inclusive, à policromia dos 160 estandartes que se lhe seguiram em bloco.
Também segundo os jornais, o público "aclamou vibrantemente" os bombeiros na sua passagem.
Ao tempo existiam, em Portugal, 375 associações e corpos de bombeiros.
Como curiosidade histórica caracterizadora do momento, por razões conjunturais da política em curso conducente ao termo do colonialismo e também de modo a evitar eventuais problemas num período de natural efervescência, os comandantes em representação dos corpos de bombeiros de Angola foram aconselhados a desfilar envergando a farda azul, ao invés da farda branca desde sempre usada naquele tipo de ocasião. "Se não formos de branco, não vamos!"- responderam, inconformados, os comandantes. "E não foram", recorda o blogue de homenagem ao Comandante Armando Cardoso Soares, primeiro dos Bombeiros Voluntários de Sá da Bandeira e depois dos Bombeiros Voluntários do Dafundo.
Estiveram ainda presentes no congresso, na qualidade de convidados, delegados estrangeiros oriundos de Espanha, França, Luxemburgo e Itália.
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O Congresso de Lisboa ficou também marcado pela eleição de um novo Presidente do então Conselho Administrativo e Técnico da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), o Padre Vítor Melícias, que desempenhava as funções de Presidente da Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, tornando-se pouco tempo depois numa das figuras mais proeminentes do sector. Deveu-se sobretudo à sua inspiração a grande transformação orgânica e estrutural da LBP, compatibilizando-a com as motivações do momento.
Vítor Melícias sucedeu no cargo a António de Moura e Silva, vulto incontornável da Confederação, à qual presidiu durante 20 anos com reconhecida ética e moral. Respaldado, exactamente, nessas qualidades, e porque a conjuntura política e social de 1974 convidava a alguns excessos nos diferentes quadrantes da sociedade, sob o título "Sempre iguais", dirigiu a seguinte mensagem ao universo dos bombeiros portugueses, demonstrando, como sempre, tratar-se de um homem comprometido com as mais profundas aspirações da humanidade:
Como já afirmámos mais de uma vez, somos das poucas instituições que não temos de rever a nossa actuação, por ela se manter sempre igual, servindo a pessoa humana, num espírito de fraternidade e abnegação, verdadeiramente ímpares.
E esta atitude firme permite que estejamos à vontade, para colaborar, leal e francamente, com os que nos governam, qualquer que seja a sua orientação política.
Sempre nos convencemos que todos os homens se podem entender, pensem como pensarem, desde que ponham acima de tudo a honestidade das suas convicções, respeitando a opinião alheia, para que a sua seja também respeitada.
Dentro deste espírito de compreensão mútua, podemos saudar os nossos governantes e reafirmar-lhes a nossa lealdade aos princípios que voluntariamente aceitámos.
Resta-nos esperar que encontremos dos que foram agora chamados à difícil missão de nos dirigir, a maior compreensão e receptividade aos nossos problemas, que serão postos sem habilidade ou visando interesses pessoais, mas tão somente o interesse geral, e com o desejo de podermos fazer mais e melhor em benefício de todos os portugueses.
Nas imagens:
Congressista intervindo numa das sessões do 21.º Congresso.
Aspecto da assistência à sessão solene de abertura.
Alguns desactualizados veículos desfilando na Avenida da Liberdade.
Gloriosos porta-estandartes.
António de Moura e Silva saudando Vítor Melícias, sob o olhar de David Cristo.