Tempestade de fogo
Apelidado de "Segundo Grande Incêndio de Londres" (por as suas dimensões lembrarem o Grande Incêndio de Londres de 1666), recordamo-lo a propósito da passagem dos 80 anos sobre o fim da II Guerra Mundial. Contextualizando, de 7 de Setembro de 1940 a 10 de Maio de 1941, sucederam-se 57 noites de bombardeamentos por parte da força aérea alemã contra a Grã-Bretanha, com vista à sua rendição: a temerosa campanha Blitz. Porém, foi em 29 de Dezembro de 1940 que ocorreu a maior ofensiva e, por conseguinte, o mais devastador incêndio. Durante todo o seu período, a Blitz causou danos nefastos em Londres e noutras principais cidades, mas, surpreendentemente, não afectou o moral dos ingleses. Um exemplo de resiliência para a humanidade.

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Fogachos 3: Gente aprumada

Memórias do Comandante Fernando Sá | Jornalista e Bombeiro Voluntário



Um simulacro de incêndio! Era das coisas mais espectaculares que se podia oferecer à população de Lisboa. Festa nacional que se organizasse, visita oficial de elemento preponderante estrangeiro à nossa cidade, o simulacro de incêndio era número obrigatório do programa de recepção. E porquê? Fama. Prestígio. Brio inexcedível, sempre a rodearem o comportamento, a existência, dos bombeiros portugueses.

Começou o prestígio e a fama há cem anos. E não mais parou. Viemos encontrá-los há 39 anos, quando nos alistámos como maqueiro, que para mais não dava a idade.

Sentimos logo essa fama. Os nossos superiores no-la fizeram-sentir, pelas suas falas, pela sua própria presença e compostura. Gente aprumada! Élite!

Estamos a recordar o Fernando Cardoso Boto. Figura imponente. Alto. Desempenado, de fartos bigodes brancos! Que figura, quando tomava o seu lugar de chefe de viatura, no pronto-socorro!

E o Dias da Silva. De voz e acção ainda com restos da Grande Guerra, nos campos das Flandres. Enérgico. Um caso sublime a comandar uma formatura.

O Carlos Otero e Salgado, que foi da fundação dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, e tantos outros que viemos encontrar, já a tripular os pronto-socorros, mas que se tinham calejado no sacrifício - entusiástico - de puxar as bombas manuais.

E a maca rodada? Essa sim que nos passou pelas mãos. Uma maca coberta e com duas rodas. Quantas vezes palmilhámos com ela de Campo de Ourique ao Banco do Hospital de S. José? Ainda hoje a recordamos, quando tripulamos uma das modernas "Merdedes".

Tempos antigos. Páginas simples, mas de esforço e dedicação, para chegarmos aos tempos actuais.


Foto: Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Demonstração de um novo pronto-socorro dos Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, na Rua Ferreira Borges, perante o então Presidente da República, Manuel Teixeira Lopes, em 24 de Junho de 1924