Tempestade de fogo
Apelidado de "Segundo Grande Incêndio de Londres" (por as suas dimensões lembrarem o Grande Incêndio de Londres de 1666), recordamo-lo a propósito da passagem dos 80 anos sobre o fim da II Guerra Mundial. Contextualizando, de 7 de Setembro de 1940 a 10 de Maio de 1941, sucederam-se 57 noites de bombardeamentos por parte da força aérea alemã contra a Grã-Bretanha, com vista à sua rendição: a temerosa campanha Blitz. Porém, foi em 29 de Dezembro de 1940 que ocorreu a maior ofensiva e, por conseguinte, o mais devastador incêndio. Durante todo o seu período, a Blitz causou danos nefastos em Londres e noutras principais cidades, mas, surpreendentemente, não afectou o moral dos ingleses. Um exemplo de resiliência para a humanidade.

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Fogachos 6: Um sonho da maioria

Memórias do Comandante Fernando Sá | Jornalista e Bombeiro Voluntário



Existe na maioria das corporações um sonho de anos, um desejo premente de ver tornada realidade a maior ambição, aliás justíssima: o seu quartel-sede.

Felizmente que ao percorrermos o País são muitos e bons os quartéis de bombeiros voluntários, dispondo de instalações acolhedoras para o convívio dos elementos do corpo activo.

Talvez muita gente não pense no valor, na alegria imensa dos bombeiros voluntários ao verem-se de posse do seu edifício próprio.

Nesse aspecto têm sido boas colaboradoras as Câmaras Municipais, facilitando e ajudando a aquisição do terreno, o elemento principal, pois que havendo o chão, o prédio aparece. E tem havido exemplos magníficos de dedicação, de sacrifício, de esforçado trabalho, mas todo ele feito com alegria, satisfação pura.

Compreende-se. O nosso quartel é a nossa segunda casa. Quantas horas ali vivemos! Quantas noites de piquete vigilante! Quantos momentos inesquecíveis de confraternização e camaradagem ali passamos!

Depois, um quartel-sede é um motivo de valia para as associações, permitindo as festas, as reuniões de associados e uma receita que é indispensável, em instituições onde não chegam regularmente benefícios monetários, onde todos se chegam a pedir e poucos a dar.

E cada vez este aspecto de edificação de quartéis para bombeiros voluntários se torna mais flagrante de actualidade. Desenvolvem-se as populações, crescem os aglomerados habitacionais e por consequência são maiores as necessidades de socorro, numa vida em que tudo é mais rápido, e que por isso mesmo exige também maior aceleração dos que têm por dever prestar o seu amparo socorrista, ao fogo, ao desastre. Já não se pode conceber ter um antiquado pronto-socorro, simplesmente guardado num barracão, e correr a ir buscá-lo, quando o sino da torre, em badaladas soturnas, avise que há fogo. Era há muitos anos.

Tudo isso se desmoronou com o rodar dos tempos, com os novos moldes de vida. Nem barracão, nem torre sineira a badalar clamores de fogo.

Certo que quem tem de olhar pelas corporações de Bombeiros Voluntários têm de ser os próprios voluntários, os Comandantes e as Direcções, conjuntos de homens a quem cabe uma tarefa de trabalho e iniciativa e um peso de responsabilidades enorme. Mas ao menos que se facilite, que se auxilie, que se compreenda, a necessidade das corporações de bombeiros terem os seus quartéis-sede, que não podem comprar, que não podem mandar construir, que têm elas mesmo de construir tijolo a tijolo.