E tudo a chuva levou - Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, a queda de forte precipitação causou violentas inundações em toda a região de Lisboa. As consequências foram alarmantes. Rios e ribeiras transbordaram as margens e, na sua sinistra passagem, as águas arrastaram pessoas e tudo mais que apareceu pela frente. Calcula-se que resultaram da intempérie cerca de 700 mortos e milhares de desalojados. Entre as vítimas mortais constaram três jovens e valorosos bombeiros, facto quase sempre ignorado quando se aborda o tema das cheias de 1967. Referimo-nos a José Carlos Ramos Basílio, Cadete dos Bombeiros Voluntários de Alverca, e José Rosa Serra e José António Lourenço Venâncio, respectivamente, Aspirante e Cadete dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, cujos corpos foram encontrados mais tarde.

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Fogachos 4: A existência de material moderno

Memórias do Comandante Fernando Sá | Jornalista e Bombeiro Voluntário



O reapetrechamento material das corporações de Voluntários está a fazer-se por forma altamente valiosa, mercê dos subsídios do Conselho Nacional de Incêndios, mediante criteriosa orientação das suas Inspecções de Incêndios.

Actualmente a província apresenta-nos material de combate à altura das necessidades, se bem que muito mais seja necessário adquirir. Mas, já é maioria a existência de material moderno e os pronto-socorros de nevoeiro firmam a sua eficiência e capacidade de viaturas a satisfazerem muitas necessidades.

Quebram-se assim, felizmente, aquelas compras associativas de carros baratinhos, em segunda e terceira "mãos", que com muito esforço, dedicação e sacrifício, as corporações transformavam em pronto-socorros.

Mais não podiam. E causava apreensões ver-nos sair para fogo com quatro, seis ou oito voluntários de boa vontade, essas viaturas aprestadas a uma utilidade de socorro, mas sem requisitos técnicos e materiais indispensáveis para uma viatura de especial função, chegavam às corporações - e compradas sabe-se lá com que sacrifícios! - fartinhas de serem camionetas utilizadas e cansadas de acarretarem pedra ou outros carregos, que as obrigavam aos maus tratos inerentes às funções em que as utilizavam.

A quantos riscos se expuseram esses homens abnegados e bons, correndo para o perigo, em cima de outro perigo ainda maior.

Mas ainda há corporações com viaturas dessas a saírem para fogo, e sempre com a mesma alegria, com o mesmo voluntário desejo de serem úteis ao semelhante, os seus bombeiros tripulam-nas com a descontracção própria de quem tem um dever a cumprir, correndo todos os riscos, todos os perigos.


Foto: Arquivo F&H
Auto-Pronto-Socorro de Nevoeiro, Chevrolet Viking 60, de 1960, dos Bombeiros Voluntários do Peso da Régua