E tudo a chuva levou - Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, a queda de forte precipitação causou violentas inundações em toda a região de Lisboa. As consequências foram alarmantes. Rios e ribeiras transbordaram as margens e, na sua sinistra passagem, as águas arrastaram pessoas e tudo mais que apareceu pela frente. Calcula-se que resultaram da intempérie cerca de 700 mortos e milhares de desalojados. Entre as vítimas mortais constaram três jovens e valorosos bombeiros, facto quase sempre ignorado quando se aborda o tema das cheias de 1967. Referimo-nos a José Carlos Ramos Basílio, Cadete dos Bombeiros Voluntários de Alverca, e José Rosa Serra e José António Lourenço Venâncio, respectivamente, Aspirante e Cadete dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, cujos corpos foram encontrados mais tarde.

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Fogachos 5: Cadetes, um render de guarda

Memórias do Comandante Fernando Sá | Jornalista e Bombeiro Voluntário



Merecem o maior aceno de simpatia os quadros de Cadetes que estão a desenvolver-se nas Corporações de Bombeiros Voluntários. Estão a actuar como futuro reforço dos quadros activos, um render de guarda dos que pela idade e pelo cansaço têm de ceder o seu lugar.

Mas, porque cada vez é maior a dificuldade de preenchimento dos quadros de actividade, as corporações de bombeiros voluntários lutam com a falta de alistamento para uma missão onde só há sacrifício. O espírito altruísta, de bem-fazer, a vida posta ao serviço das outras vidas sem mais esperar do que a satisfação do dever cumprido, são motivos básicos que os tempos de hoje, acomodados no comodismo e no encolher de ombros com que tantos olham as coisas da vida, tornam difícil de satisfazer, no caso de alistamento como bombeiro voluntário.

Havia, há anos, nas corporações um quadro que permitia o alistamento de jovens de menos de 18 anos: eram os Serviços de Saúde com o seu quadro de maqueiros. Aí ingressavam os jovens que se tentavam pelos bombeiros voluntários, até fazerem os 18 anos e passarem para as escolas de bombeiro.

Extinto esse serviço especializado nas corporações os quadros de cadetes estão a substituir muito bem essa necessária escala de subida ao voluntário combatente, tendo já ganho o interesse, o entusiasmo e a perfeita noção do que é ser na verdade bombeiro voluntário.

Se é certo que se vai para bombeiro voluntário por intuição, por interesse especial, por prazer e admiração, também é de facto necessário não esmorecer a propaganda-convite para engrossar as nossas fileiras.

Se na província está lutar-se com falta de elementos que queiram dar o chamado corpo ao manifesto, em Lisboa, como centro capital da Nação, com o seu desenvolvimento, os seus prazeres e deslumbramentos de grande e formosa cidade, esse alistamento é ainda mais difícil.

As quatro corporações bem lutam pela propaganda deste ideal belo e de tanta riqueza humana. Por isso os seus quadros de cadetes estão a progredir e constituem belas escolas de promoção de preparação de futuros bombeiros voluntários. Mas compreenda-se cadetes e não mascotes. Rapazinhos já com a sua juventude a dar a certeza de compreensão.

Neste aspecto têm-se salientado os Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique, dando ao seu quadro de cadetes o maior apoio e interesse. Na última e recente escola de aspirantes a bombeiro daquela corporação entre os elementos a começarem a preparação, figuram quatro cadetes, que por terem atingido os 18 anos agora passaram à escola para bombeiros. O facto apresenta-se como exemplo da utilidade que estão a representar esses Corpos de Cadetes nos corpos de bombeiros voluntários.


Foto: Bombeiros Voluntários de Ourém