As consequências foram alarmantes. Rios e ribeiras transbordaram as margens e, na sua sinistra passagem, as águas arrastaram pessoas e tudo mais que apareceu pela frente.
Calcula-se que resultaram da intempérie cerca de 700 mortos e milhares de desalojados.
Entre as vítimas mortais constaram três jovens e valorosos bombeiros, facto quase sempre ignorado quando se aborda o tema das cheias de 1967. Referimo-nos a José Carlos Ramos Basílio, Cadete dos Bombeiros Voluntários de Alverca, e José Rosa Serra e José António Lourenço Venâncio, respectivamente, Aspirante e Cadete dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, cujos corpos foram encontrados mais tarde.
O regime político vigente, através da censura, procurou camuflar o sucedido em Lisboa e nos concelhos limítrofes manipulando os números da catástrofe.
Contudo, os efeitos da destruição foram de tal maneira evidentes que denunciaram, entre outras fragilidades, as difíceis condições de vida das classes desfavorecidas.
No plano do socorro, apenas os bombeiros valeram às populações, secundados pela solidariedade de populares, algumas unidades militares e milhares de estudantes que se organizaram em vários grupos.
Não havia actividade de protecção civil, tendo o Estado revelado menos operância na resposta à tragédia e mais preocupação com a sobrevivência da governação.
A foto que publicamos retrata um dos lugares mais trágicos das inundações, a aldeia de Quintas, na Castanheira do Ribatejo, concelho de Vila Franca de Xira, onde morreram cerca de dois terços da sua população.
Conforme patenteado, os meios de trabalho que os bombeiros dispunham eram limitadíssimos, enfrentando-se a situação com recurso aos meios que cada qual dispunha.
Atentos aos duros serviços prestados em toda a parte, os jornais relataram a bravura e também a comoção de homens sentimentais, não obstante a firmeza demonstrada na superação da adversidade:
"No salão dos Bombeiros Voluntários de Odivelas há bastantes mortos anónimos. Estão cobertos de barro e só poderão ser identificados após a lavagem. O comandante, sr. Fernando de Oliveira Aleixo, não se sente com forças para fazer declarações. A seu lado vemos um oficial dos Fuzileiros Navais, o sr. aspirante Rocha. 'Dizer o quê?', exclama. 'A resposta é esta que o senhor aí tem.'"
O esforço humano foi enorme e o desgaste material de elevada monta.
Em Alenquer, o quartel dos Bombeiros não escapou à enxurrada. Sete viaturas ficaram submersas.
Na Trafaria, também as instalações dos Bombeiros locais foram atingidas.
Os prejuízos declarados pelos corpos de bombeiros à Inspecção de Incêndios da Zona Sul, compreendendo diferentes anomalias e demais custos associados aos trabalhos de socorro, ultrapassaram um milhão e meio de escudos:
Reparação de viaturas de incêndios - 601 317$30
Reparação de auto-macas - 135 472$20
Moto-bombas - 121 265$00
Material de combate a incêndios - 496 885$10
Material de aquartelamento - 5 300$00
Fardamentos - 158 891$50
Instalações - 91 500$00
Salários - 11 322$00
Alimentação - 1 720$00
Combustíveis - 18 812$40
Diversos - 680$00
TOTAL - 1 643 166$30
Embora conhecedor das dificuldades por que as associações de bombeiros tradicionalmente passavam, o Estado revelou ser incapaz de apoiar, na justa proporção, aquelas que não tendo quase nada ou dispondo de muito pouco foram as únicas entidades verdadeiramente actuantes no contexto da emergência que o país clamava.
Em reunião realizada a 10 de Janeiro de 1968 com os comandantes dos corpos de bombeiros sediados nas áreas atingidas pelo temporal, o Inspector de Incêndios da Zona Sul, Coronel Rogério Cansado, viu-se forçado a pedir aos presentes que abdicassem de verbas declaradas.
Segundo informado na ocasião, os fundos conseguidos através dos Ministérios da Saúde e do Interior e do Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios (CNSI) não cobriam a totalidade dos subsídios que eram necessários atribuir.
Na sequência da limitação apresentada, quer a reparação de viaturas, quer a substituição de material mereceram apenas um apoio de 45 por cento sobre os valores indicados. Esta foi a solução encontrada e acolhida pelos comandantes, apesar de a mesma concorrer negativamente para os cofres das respectivas associações.
Numa nota enviada aos órgãos de informação, o CNSI louvou a acção dos bombeiros nas inundações e lamentou a morte dos três voluntários.
Em reunião realizada a 10 de Janeiro de 1968 com os comandantes dos corpos de bombeiros sediados nas áreas atingidas pelo temporal, o Inspector de Incêndios da Zona Sul, Coronel Rogério Cansado, viu-se forçado a pedir aos presentes que abdicassem de verbas declaradas.
Segundo informado na ocasião, os fundos conseguidos através dos Ministérios da Saúde e do Interior e do Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios (CNSI) não cobriam a totalidade dos subsídios que eram necessários atribuir.
Na sequência da limitação apresentada, quer a reparação de viaturas, quer a substituição de material mereceram apenas um apoio de 45 por cento sobre os valores indicados. Esta foi a solução encontrada e acolhida pelos comandantes, apesar de a mesma concorrer negativamente para os cofres das respectivas associações.
Numa nota enviada aos órgãos de informação, o CNSI louvou a acção dos bombeiros nas inundações e lamentou a morte dos três voluntários.
Em homenagem póstuma aos elementos atrás mencionados, a Liga dos Bombeiros Portugueses concedeu-lhes a então Medalha de Ouro de Três Estrelas, pelo "sacrifício das suas vidas em benefício da do seu semelhante". Por sua vez, o Presidente da República, Almirante Américo Thomaz, distinguiu-os com o grau de Oficial da Ordem de Benemerência, em cerimónia realizada no Palácio de Belém, a 10 de Junho de 1968.
Pródigos no seu humanismo solidário e praticamente entregues à sua sorte, o que nunca é demais recordar, nas grandes cheias de 1967, os bombeiros de Lisboa e arredores foram o principal garante da segurança comunitária.
Pesquisa/Texto: Redacção F&H
Foto: Arquivo F&H