Tempestade de fogo
Apelidado de "Segundo Grande Incêndio de Londres" (por as suas dimensões lembrarem o Grande Incêndio de Londres de 1666), recordamo-lo a propósito da passagem dos 80 anos sobre o fim da II Guerra Mundial. Contextualizando, de 7 de Setembro de 1940 a 10 de Maio de 1941, sucederam-se 57 noites de bombardeamentos por parte da força aérea alemã contra a Grã-Bretanha, com vista à sua rendição: a temerosa campanha Blitz. Porém, foi em 29 de Dezembro de 1940 que ocorreu a maior ofensiva e, por conseguinte, o mais devastador incêndio. Durante todo o seu período, a Blitz causou danos nefastos em Londres e noutras principais cidades, mas, surpreendentemente, não afectou o moral dos ingleses. Um exemplo de resiliência para a humanidade.

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sexta-feira, 27 de junho de 2025

Baptismo de fogo captado em fotografia

Pesquisa/Texto: Redacção F&H
Foto: Bombeiros Voluntários Portuenses

Historicamente, é raro um corpo de bombeiros dispor de registo fotográfico alusivo ao seu baptismo de fogo. Desta sorte bem se podem gabar os Bombeiros Voluntários Portuenses (BVP), que em 2024 completaram 100 anos de heroísmo, abnegação e solidariedade.



O primeiro incêndio onde os BVP intervieram ocorreu ao princípio da manhã do dia 16 de Julho de 1924.

Os Portuenses haviam sido fundados há três meses e encontravam-se sediados na Rua do Bolhão, curiosamente, perto do local do sinistro, a Rua de Fernandes Tomás.

Naquele dia, o fogo declarou-se no espaço ocupado pelos Grandes Armazéns da Estamparia do Bolhão, estabelecimento de renome fundado em 1850. Comercializava uma vasta gama de produtos, "fazendas de seda, lã e algodão, nacionais e estrangeiras; tapetes e alcatifas; jutas, oleados, perfumarias, miudezas, móveis, etc., etc.", menciona publicidade antiga.

Tudo parece ter tido origem na garagem para recolhimento de carros de praça e particulares, por negligência humana, no simples manuseamento de desperdícios de óleo.

Foram chamados para extinguir o incêndio, o Corpo de Salvação Pública do Porto (actual Regimento de Sapadores Bombeiros do Porto), os Bombeiros Voluntários do Porto e os Bombeiros Voluntários Portuenses.

Como se deduz, pela concentração de materiais combustíveis, a carga de incêndio foi elevadíssima, a ponto de as portadas em ferro dos estabelecimentos contíguos escaldarem e alguns vidros estilhaçarem.

Inevitavelmente, as chamas danificaram a totalidade das instalações ocupadas pelos armazéns e alastraram a outros edifícios, também ocupados por comércio, que ficaram de igual modo reduzidos a escombros, restando apenas as fachadas.

Para além dos vários recheios, a própria natureza das construções afectadas, à base de estruturas de madeira, optimizou o processo de combustão.

Os trabalhos de combate viram-se dificultados logo de início, devido a insuficiência de água, o que motivou musculado recurso a todas as bocas de incêndio instaladas na Rua de Fernandes Tomás e nas imediações, incluindo as do Mercado do Bolhão. Porém, a gravidade do momento exigiu ainda a mobilização da Companhia das Águas para enchimento dos respectivos depósitos. Por precaução, o abastecimento na Foz esteve suspenso.

A existência, no subsolo, de um depósito de gasolina, gerou apreensão nos bombeiros, face ao risco de explosão, se bem que construído em cimento armado e ferro. A fim de evitarem mal maior entenderam proceder ao permanente arrefecimento do mesmo, obtendo, portanto, êxito com a técnica aplicada.

Os prejuízos elevaram-se a milhares de contos, significativa parte dos quais não segurados.

Alguns dos bens ameaçados e que os bombeiros conseguiram colocar a salvo acabaram danificados pela acção penetrante das fagulhas lançadas no ar por gigantes labaredas.

Oito veículos que se encontravam estacionados no interior da garagem acabaram calcinados.

Durante o ataque ao fogo registaram-se derrocadas e situações de bombeiros feridos, entre outros atingidos. A assistência esteve sobremaneira a cargo da Cruz Vermelha e da Cruz de Malta, através de postos de socorros instalados expressamente para o efeito.

O incêndio levou tempo a ser extinto e atraiu muita gente ao centro do Porto.

Certas artérias estiveram vedadas à circulação automóvel e carros eléctricos.

Tratou-se de um acontecimento marcante, com repercussões económicas e sociais, acompanhado a par e passo pela imprensa da capital nortenha. O Comércio do Porto deu destaque de primeira página a uma verdadeira tragédia que se abatera sobre a Invicta e não se furtou de elogiar o denodado desempenho dos bombeiros.