Foto: Bombeiros Voluntários Portuenses

O primeiro incêndio onde os BVP intervieram ocorreu ao princípio da manhã do dia 16 de Julho de 1924.
Os Portuenses haviam sido fundados há três meses e encontravam-se sediados na Rua do Bolhão, curiosamente, perto do local do sinistro, a Rua de Fernandes Tomás.
Naquele dia, o fogo declarou-se no espaço ocupado pelos Grandes Armazéns da Estamparia do Bolhão, estabelecimento de renome fundado em 1850. Comercializava uma vasta gama de produtos, "fazendas de seda, lã e algodão, nacionais e estrangeiras; tapetes e alcatifas; jutas, oleados, perfumarias, miudezas, móveis, etc., etc.", menciona publicidade antiga.
Tudo parece ter tido origem na garagem para recolhimento de carros de praça e particulares, por negligência humana, no simples manuseamento de desperdícios de óleo.
Foram chamados para extinguir o incêndio, o Corpo de Salvação Pública do Porto (actual Regimento de Sapadores Bombeiros do Porto), os Bombeiros Voluntários do Porto e os Bombeiros Voluntários Portuenses.
Como se deduz, pela concentração de materiais combustíveis, a carga de incêndio foi elevadíssima, a ponto de as portadas em ferro dos estabelecimentos contíguos escaldarem e alguns vidros estilhaçarem.
Inevitavelmente, as chamas danificaram a totalidade das instalações ocupadas pelos armazéns e alastraram a outros edifícios, também ocupados por comércio, que ficaram de igual modo reduzidos a escombros, restando apenas as fachadas.
Para além dos vários recheios, a própria natureza das construções afectadas, à base de estruturas de madeira, optimizou o processo de combustão.
Os trabalhos de combate viram-se dificultados logo de início, devido a insuficiência de água, o que motivou musculado recurso a todas as bocas de incêndio instaladas na Rua de Fernandes Tomás e nas imediações, incluindo as do Mercado do Bolhão. Porém, a gravidade do momento exigiu ainda a mobilização da Companhia das Águas para enchimento dos respectivos depósitos. Por precaução, o abastecimento na Foz esteve suspenso.
A existência, no subsolo, de um depósito de gasolina, gerou apreensão nos bombeiros, face ao risco de explosão, se bem que construído em cimento armado e ferro. A fim de evitarem mal maior entenderam proceder ao permanente arrefecimento do mesmo, obtendo, portanto, êxito com a técnica aplicada.
Os prejuízos elevaram-se a milhares de contos, significativa parte dos quais não segurados.
Alguns dos bens ameaçados e que os bombeiros conseguiram colocar a salvo acabaram danificados pela acção penetrante das fagulhas lançadas no ar por gigantes labaredas.
Oito veículos que se encontravam estacionados no interior da garagem acabaram calcinados.
Durante o ataque ao fogo registaram-se derrocadas e situações de bombeiros feridos, entre outros atingidos. A assistência esteve sobremaneira a cargo da Cruz Vermelha e da Cruz de Malta, através de postos de socorros instalados expressamente para o efeito.
O incêndio levou tempo a ser extinto e atraiu muita gente ao centro do Porto.
Certas artérias estiveram vedadas à circulação automóvel e carros eléctricos.
Tratou-se de um acontecimento marcante, com repercussões económicas e sociais, acompanhado a par e passo pela imprensa da capital nortenha. O Comércio do Porto deu destaque de primeira página a uma verdadeira tragédia que se abatera sobre a Invicta e não se furtou de elogiar o denodado desempenho dos bombeiros.