Socorro sobre quatro rodas - O automóvel em Portugal está de parabéns. Faz 130 anos que circulou o primeiro carro de turismo pelas estradas nacionais, um Panhard & Levassor, adquirido na capital francesa pelo Conde Jorge d'Avillez. Tanto a introdução como a generalização do seu uso, nos hábitos dos portugueses, levaram tempo, por razões económicas. Todavia, na actividade dos bombeiros, foi adoptado relativamente cedo para transportar pessoal e material dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses (BVL), pioneiros do advento da motorização no contexto do serviço de incêndios e do serviço de saúde.


Museus ou salas-museu?

"(...) é um erro pensar-se, de modo generalizado, na certificação dos espaços museológicos pertencentes a bombeiros, quando há todo um trabalho a montante por fazer."



"Um museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos e ao serviço da sociedade, que pesquisa, coleciona, conserva, interpreta e expõe o património material e imaterial. Abertos ao público, acessíveis e inclusivos, os museus fomentam a diversidade e a sustentabilidade. Com a participação das comunidades, os museus funcionam e comunicam de forma ética e profissional, proporcionando experiências diversas para educação, fruição, reflexão e partilha de conhecimento."

Esta é a nova definição de museu, segundo o International Council of Museums (ICOM), convencionada pela Assembleia Geral Extraordinária daquele organismo, reunida em Praga, a 24 de Agosto de 2022.

Refira-se que o ICOM constitui "a maior organização internacional de museus e profissionais de museus dedicada à preservação e divulgação do património natural e cultural mundial, do presente e do futuro, tangível e intangível".

Em Portugal, e no que concerne à Instituição-Bombeiros, há uma tendência excessiva e precipitada de atribuir a palavra museu a qualquer espaço onde se encontrem concentradas peças antigas, tenham elas valor museológico ou não.

Realisticamente, exceptuando um conjunto reduzido de autênticos e excelentes museus de bombeiros, porque concebidos de raiz com lógica e técnica, o que existe, em abundância, nos quartéis, são salas-museu.

Nessas dependências encontramos de tudo um pouco, na maioria dos casos, exposto sem critério e, naturalmente, sem olhar aos cuidados inerentes à organização e conservação de uma colecção museológica.

O próprio restauro, tema para um próximo editorial, carece de base sólida.

Significa, portanto, que é um erro pensar-se, de modo generalizado, na certificação dos espaços museológicos pertencentes a bombeiros, quando há todo um trabalho a montante por fazer.

O avanço que os bombeiros de vários países levam neste domínio, decorrente de outras dimensões culturais que sempre reconheceram a importante função social da história, não encontra paralelo em Portugal.

Primeiramente, no nosso rectângulo à beira-mar plantado, importa gerir os acervos em profundidade.

Para o efeito, e porque as associações humanitárias de bombeiros não dispõem de recursos, seria desejável o fomento de parcerias protocoladas com museus e demais serviços culturais detidos pelos municípios, no âmbito da assessoria técnica, em ordem a qualificar as intervenções necessárias.

Atingido tal desiderato, então, sim, faria sentido agir com mais ambição, sem, no entanto, primeiro, conceber e implementar, formal e literalmente, um plano nacional de preservação e divulgação da história dos bombeiros portugueses.

Os processos de certificação revestem-se de interesse e, quando concluídos, conferem credibilidade, mas por enquanto dever-se-ão cingir, apenas, aos museus na verdadeira acepção da palavra. A sua banalizada aplicação, sem olhar a critérios de qualidade e, porventura, com o desmesurado propósito de mostrar serviço, poderá acarretar resultados perniciosos e até injustos.


Luís Miguel Baptista
Jornalista
lmb.fogo.historia@gmail.com