Fotos: Museu Vista Alegre
A prestigiada marca Vista Alegre, que celebra o seu duplo centenário (1824-2024), não foi só pioneira em Portugal no ramo de produção de porcelana. Na verdade, bem pode orgulhar-se de ter fundado o primeiro corpo de bombeiros privativos do país e o primeiro de todo o distrito de Aveiro.
A prestigiada marca Vista Alegre, que celebra o seu duplo centenário (1824-2024), não foi só pioneira em Portugal no ramo de produção de porcelana. Na verdade, bem pode orgulhar-se de ter fundado o primeiro corpo de bombeiros privativos do país e o primeiro de todo o distrito de Aveiro.
O Corpo de Bombeiros Privativos da Fábrica de Porcelana Vista Alegre (CBPFPVA) foi fundado a 1 de Outubro de 1880, ou seja, cinquenta e seis anos depois de José Ferreira Pinto Basto ter estabelecido, em Ílhavo, a Real Fábrica de Porcelanas, Vidros e Produtos Químicos Vista Alegre.
A convicção de diferentes gerações de proprietários de que a ocorrência de um eventual acidente poderia ser prejudicial à integridade do património industrial e do edificado adjacente (bairro de moradias, teatro, capela, refeitório e creche para os filhos dos trabalhadores), motivou a criação e manutenção de um serviço de incêndios próprio.
Todavia, sempre que necessário, os vulgarmente designados "Bombeiros da Vista Alegre" dispunham-se a intervir fora do perímetro fabril, o que aconteceu inúmeras vezes até aos nossos dias, demonstrando também a responsabilidade social da entidade detentora. A este respeito, os anais da história registam a presença de pessoal e material em dois incêndios marcantes, ambos em Aveiro: nos Arcos e na sede do Governo Civil.
Em relação ao primeiro incêndio, o jornal Público, numa reportagem publicada a 22 de Agosto de 2010, acerca do 127.º aniversário do CBPFPVA e do seu futuro, suportado em declarações do Comandante João Machado, fazia uma incursão pela história e relatava um curioso episódio:
"(…) quando chegaram ao centro da cidade de Aveiro para acorrer a um incêndio num edifício na Praça dos Arcos (actualmente Praça de Joaquim Mello Freitas), munidos da sua bomba de madeira puxada por duas mulas, terão sido alvo de chacota por parte da população local, que desconhecia por completo o que era um corpo de bombeiros. Reza a história que o comandante da corporação de bombeiros terá ficado tão desagradado com os sorrisos irónicos dos presentes que ordenou, de imediato, o regresso à fábrica da Vista Alegre (…)."
Já no interior da fábrica, e apesar do conceito de prevenção prevalecente, chegaram a deflagrar grandes incêndios na oficina de pintura e na abegoaria, combatidos por elementos do Corpo de Bombeiros, simultaneamente, empregados da Vista Alegre.
Todavia, sempre que necessário, os vulgarmente designados "Bombeiros da Vista Alegre" dispunham-se a intervir fora do perímetro fabril, o que aconteceu inúmeras vezes até aos nossos dias, demonstrando também a responsabilidade social da entidade detentora. A este respeito, os anais da história registam a presença de pessoal e material em dois incêndios marcantes, ambos em Aveiro: nos Arcos e na sede do Governo Civil.
Em relação ao primeiro incêndio, o jornal Público, numa reportagem publicada a 22 de Agosto de 2010, acerca do 127.º aniversário do CBPFPVA e do seu futuro, suportado em declarações do Comandante João Machado, fazia uma incursão pela história e relatava um curioso episódio:
"(…) quando chegaram ao centro da cidade de Aveiro para acorrer a um incêndio num edifício na Praça dos Arcos (actualmente Praça de Joaquim Mello Freitas), munidos da sua bomba de madeira puxada por duas mulas, terão sido alvo de chacota por parte da população local, que desconhecia por completo o que era um corpo de bombeiros. Reza a história que o comandante da corporação de bombeiros terá ficado tão desagradado com os sorrisos irónicos dos presentes que ordenou, de imediato, o regresso à fábrica da Vista Alegre (…)."
No decurso dos anos 20 do século passado, à medida que as instalações da empresa foram alargando e os meios de produção modernizando, a organização operacional sofreu novo incremento, o que se ficou a dever ao Comandante Manuel de Oliveiros.
Foram igualmente notáveis e consequentes líderes, tanto quanto investigámos, o Comandante Ângelo Gomes Ferreira, os Chefes José Magalhães e António Antunes e o Comandante Luís Gomes Pelicano.
Não sendo intenção de FOGO & HISTÓRIA historiar, detalhadamente, o percurso do Corpo de Bombeiros Privativos da Fábrica de Porcelana Vista Alegre, mas sim reunir um número suficiente de fragmentos que traduzam a importância histórico-social do mesmo durante os 144 anos que leva de existência, parece-nos relevante apontar, por exemplo, que o seu quartel, inaugurado em 1974, correspondia a um dos melhores de Aveiro.
Não sendo intenção de FOGO & HISTÓRIA historiar, detalhadamente, o percurso do Corpo de Bombeiros Privativos da Fábrica de Porcelana Vista Alegre, mas sim reunir um número suficiente de fragmentos que traduzam a importância histórico-social do mesmo durante os 144 anos que leva de existência, parece-nos relevante apontar, por exemplo, que o seu quartel, inaugurado em 1974, correspondia a um dos melhores de Aveiro.
Por sua vez, o Quadro Activo, sempre considerado e respeitado pelos demais do distrito, apenas se foi diferenciando na denominação, pois que, culturalmente, nunca conheceu restrições de qualquer espécie, subordinando-se aos cânones gerais dos bombeiros portugueses, inclusive aos níveis regulamentar e formativo.
Em Outubro de 2002, A Revista dos Bombeiros, projecto editorial do malogrado jornalista José Manuel Teixeira, num artigo intitulado "Os mais antigos Bombeiros Privativos no País", dava conta:
"Percorrendo as instalações do C.B.P. da Vista Alegre, em Ílhavo, quase nos sentimos num museu, tal o ambiente histórico que ali respiramos (…)."
A publicação referia-se ao acervo que hoje faz parte do Museu da Vista Alegre (inaugurado no ano de 1964 e remodelado entre 2014 e 2016), principalmente, bombas braçais do sistema aspirante-premente, extintores de tetracloreto de carbono e veículos motorizados, tanto de combate a incêndios como ambulâncias.
A publicação referia-se ao acervo que hoje faz parte do Museu da Vista Alegre (inaugurado no ano de 1964 e remodelado entre 2014 e 2016), principalmente, bombas braçais do sistema aspirante-premente, extintores de tetracloreto de carbono e veículos motorizados, tanto de combate a incêndios como ambulâncias.
Entre os valiosos objectos e equipamentos que o visitante poderá apreciar naquele espaço, oferece-nos dar especial ênfase à bomba mais antiga, cujo modelo, de origem inglesa e do tipo "Newsham", remonta ao século XVIII (na foto acima). Toda ela construída em madeira compreende um tanque de baixa capacidade e uma espécie de agulheta ou ponteira amovível, no fundo, um tubo pelo qual a água era lançada na direcção das chamas. O seu estado de conservação é irrepreensível.
A velha bomba, verdadeiro ex-libris do CBPFPVA, desfilou no Cortejo Histórico dos Bombeiros Portugueses, realizado em Sintra a 17 de Junho de 1990, por ocasião da comemoração conjunta dos centenários das Associações de Bombeiros Voluntários de Colares e de Sintra.
Quanto aos chamados extintores de tetracloreto de carbono, merecem igualmente uma nota de referência, porquanto são engenhos anteriores aos extintores, autênticas relíquias documentais: granadas de fogo ou matafogos. Surgiram no mercado em 1870, nos Estados Unidos da América, na cidade de Chicago, por invenção de Henry Harden, e estiveram em uso até aos princípios do século XX, sofrendo ao longo do tempo sucessivos aperfeiçoamentos.
Sumária e tecnicamente, tratavam-se de globos de vidro que continham no seu interior tetracloreto de carbono. Podiam ser lançados sobre o fogo ou uma vez suspensos nas paredes através de suportes próprios, à mais elevada temperatura, o vidro quebrava e a substância orgânica libertava-se. No entanto, a sua inalação era prejudicial, motivando problemas do foro respiratório.
O Corpo de Bombeiros Privativos da Fábrica de Porcelana Vista Alegre ocupa, sem dúvida, um lugar de relevo na história dos bombeiros portugueses, embora estejamos na presença de uma realidade específica que já conheceu outro tipo de implantação e dinâmica. No todo nacional, o número de corpos de bombeiros privativos não atinge uma dezena.
"Hoje o corpo de bombeiros da Fábrica da Vista Alegre, em coordenação com o departamento de Higiene e Segurança continua a prestar auxilio nas emergências, exercendo igualmente um importante papel na área da prevenção e vigilância" - esclarece fonte empresarial.
O Museu Vista Alegre funciona de segunda-feira a domingo, entre as 10 e as 19 horas, e proporciona diferentes actividades de lazer.