Socorro sobre quatro rodas - O automóvel em Portugal está de parabéns. Faz 130 anos que circulou o primeiro carro de turismo pelas estradas nacionais, um Panhard & Levassor, adquirido na capital francesa pelo Conde Jorge d'Avillez. Tanto a introdução como a generalização do seu uso, nos hábitos dos portugueses, levaram tempo, por razões económicas. Todavia, na actividade dos bombeiros, foi adoptado relativamente cedo para transportar pessoal e material dos Bombeiros Voluntários Lisbonenses (BVL), pioneiros do advento da motorização no contexto do serviço de incêndios e do serviço de saúde.


Transmitir a história aos bombeiros

"(...) julgamos que traria benefício ser adoptado, em termos formativos, um módulo de noções básicas sobre a história dos bombeiros portugueses, leccionado de modo sugestivo, com o propósito de consciencializar todos, sem excepção, para a importância de se saber o porquê das coisas serem como são, de se conhecer factos e conceitos, legados que moldaram o sector e o conduziram até à actualidade."



De uma maneira geral, a disciplina de História não colhe a preferência dos alunos.

Esta é a conclusão imediata que se retira da leitura de estudos académicos.

A pouca atractividade dos planos curriculares e as estratégias usadas no ensino contribuem para um certo desinteresse. 

Talvez até não se pense muito nisso, mas o facto empobrece-nos culturalmente, com a agravante de assim estarmos a fragilizar a nossa identidade enquanto povo e nação.

Como diria Napoleão Bonaparte, "uma cabeça sem memória é uma praça sem guarnição".

Nos Bombeiros, o caso afigura-se semelhante e preocupante, porquanto não existe, em contexto de formação inicial, a mínima abordagem referente à origem e evolução do socorrismo.

Ou seja, nos corpos de bombeiros, procede-se ao recrutamento de cidadãos, abrem-se diferentes escolas, mas a oferta formativa versa, exclusivamente, matéria operacional.

Estamos a admitir e a formar bombeiros sob o risco de, um dia destes, nenhum deles saber dar resposta a perguntas como estas:

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?

Na sua essência, a Instituição-Bombeiros apresenta consideráveis transformações, devido a fenómenos transversais aos da própria sociedade.

Em parte, foi-se desvanecendo o sentimento de pertença, por escassas referências do passado.

A esse respeito, julgamos que traria benefício ser adoptado, em termos formativos, um módulo de noções básicas sobre a história dos bombeiros portugueses, leccionado de modo sugestivo, com o propósito de consciencializar todos, sem excepção, para a importância de se saber o porquê das coisas serem como são, de se conhecer factos e conceitos, legados que moldaram o sector e o conduziram até à actualidade.

A nova liderança da Escola Nacional de Bombeiros (ENB) anunciou recentemente estar motivada em contribuir para a formação de jovens candidatos a bombeiros, infantes e cadetes.

Parecendo a mesma ter intenção de alterar um estado de coisas, aproveite-se o momento para ir mais além e alargar o horizonte dos pequenos formandos, fornecendo-lhes uma panóplia de conhecimentos que contemple também aquilo em que se vê consubstanciada a história das organizações: o reflexo da evolução da humanidade e das necessidades coletivas ao longo do tempo.

Adoptar tecnologia digital como força motriz da dita formação talvez possa servir de alavanca ao sucesso pedagógico, sem esquecer, ainda, doutrinando, o desenvolvimento da cidadania.

Fica expressa a nossa sugestão, pois "o saber não ocupa lugar" e a ENB age subordinada ao lema "Saber para Servir".


Luís Miguel Baptista
Jornalista
lmb.fogo.historia@gmail.com



Foto: Arquivo F&H
Comandante Álvaro Valente, dos Bombeiros Voluntários do Montijo, grande doutrinador dos bombeiros portugueses, intervindo no V Congresso Nacional de Bombeiros, realizado em Espinho de 9 a 13 de Julho de 1936