E tudo a chuva levou - Na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967, a queda de forte precipitação causou violentas inundações em toda a região de Lisboa. As consequências foram alarmantes. Rios e ribeiras transbordaram as margens e, na sua sinistra passagem, as águas arrastaram pessoas e tudo mais que apareceu pela frente. Calcula-se que resultaram da intempérie cerca de 700 mortos e milhares de desalojados. Entre as vítimas mortais constaram três jovens e valorosos bombeiros, facto quase sempre ignorado quando se aborda o tema das cheias de 1967. Referimo-nos a José Carlos Ramos Basílio, Cadete dos Bombeiros Voluntários de Alverca, e José Rosa Serra e José António Lourenço Venâncio, respectivamente, Aspirante e Cadete dos Bombeiros Voluntários de Bucelas, cujos corpos foram encontrados mais tarde.

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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Natal, a Bem da Humanidade

Pesquisa/Texto: Redacção F&H
Fotos: Bombeiros Voluntários de Vizela

O Natal constitui, também, ocasião de celebração nos quartéis de bombeiros. Todos os anos, um pouco por todo o país, o espírito natalício é vivido em autêntico ambiente familiar.
Há algum tempo, porém, o Natal ali assinalado tinha uma expressão diferente daquele que hoje acontece, revestindo-se de carácter eminentemente social, o que obriga à contextualização sociocultural do país e das instituições numa era de prevalecente caridade.




A título de exemplo, nas décadas de 1950 e 1960, a vida em Portugal não era fácil.

Havia acentuada diferença de classes e grandes limitações entre a população desfavorecida.

No plano do trabalho, predominavam as profissões dos sectores primário e secundário, por norma, subordinadas a condições sub-humanas e a baixos salários.

Essa era, no fundo, a realidade social dos agregados familiares de larga percentagem de elementos que integravam os quadros activos dos corpos de bombeiros, e que se viam sujeitos a privações de variada ordem.

Os hábitos de vida não ofereciam melhor opção de escolha senão trabalhar o mais possível para garantir o sustento da família, sendo os períodos de ócio passados no desempenho da actividade de bombeiro voluntário.

O Natal era, portanto, um momento em que muitos se sentiam especialmente confortados por via das ofertas recebidas, na generalidade, note-se, as únicas que lhes estavam destinadas.

Quer por iniciativa directa das associações, quer através do apoio solidário das populações, procedia-se à distribuição de bodos de Natal pelos bombeiros.

Habitualmente, os bodos viam-se consubstanciados na reunião de diversos géneros alimentícios (bacalhau, arroz, açúcar, azeite, pão de milho, batatas, cebolas, frutas e vinhos) e na entrega de donativos em dinheiro. 

Os mais novos, filhos dos bombeiros, além de presenteados com brinquedos, bolos, pacotes de rebuçados, peças essenciais de vestuário ou calçado, tinham ainda reservados para si programas recreativos, preenchidos e abrilhantados por artistas locais que actuavam graciosamente.

Apesar das limitações financeiras vividas no seio das instituições, Direcções e Comandos desdobravam-se em sacrifícios para proporcionar a todos os bombeiros e suas famílias um Natal feliz e digno.

Os quartéis de bombeiros eram assim, por excelência, de Norte a Sul de Portugal, espaços convertidos em alargada magia, pois que, nalguns casos, as ofertas abrangiam os mais carenciados das localidades, verificando-se da parte das associações uma acção semelhante àquela que na actualidade se encontra cometida às juntas de freguesia e às instituições particulares de solidariedade social.

"Onde estiver um bombeiro deve estar sempre um amigo dos animais, um amparo dos fracos e um protector das crianças, dos velhos, das mulheres e dos humildes."   

As palavras citadas, da "Legenda do Bombeiro", uma das muitas inspirações literárias do Comandante Álvaro Valente, dos Bombeiros Voluntários do Montijo, figuravam então quase de modo obrigatório na mais destacada parede de qualquer aquartelamento, traduzindo, mais do que um princípio orientador, um permanente estado de espírito, inclusive, com repercussão no Natal de todos e de cada um.