Fotos: Museu de Alhandra - Casa Dr. Sousa Martins e Arquivo F&H
Os fenómenos meteorológicos, cada vez mais frequentes e desafiantes para os bombeiros em matéria de auxílio, ocupam lugar na história do socorro e são motivo de pesquisa devido às suas implicações.
Do tipo da recente depressão Martinho, embora numa dimensão muito superior, no dia 15 de Fevereiro de 1941, Portugal foi atingido por um violento ciclone que provocou avultados prejuízos, incluindo a perda de vidas humanas. Estima-se que tenham morrido mais de cem pessoas.
Com o território nacional em completo alvoroço, as autoridades oficiais tiveram de se desdobrar na reposição da normalidade, mas antes, e como sempre acontece nos momentos de catástrofe, coube aos bombeiros, sem largueza de meios e expostos ao perigo, garantir a primeira intervenção.

Tratou-se de uma das mais devastadoras tempestades de inverno sentidas no país, varrendo, de Norte a Sul, habitações, culturas, indústrias e até embarcações, ao que sucedeu uma cadeia de constrangimentos na circulação ferroviária, fornecimento de energia eléctrica e estabelecimento de comunicações telegráficas/telefónicas.
"O processo evolutivo desta depressão pode ser classificado como ciclogénese explosiva, com os valores de pressão a descerem acentuadamente em 24h, nomeadamente em Coimbra, onde a variação da pressão em 24h foi de 48,5 hPa, tendo-se registado entre as 15h do dia anterior e as 15h do dia 15, uma variação de 987,0 hPa a 938,5 hPa, respetivamente (valores de pressão registados ao nível da estação)", explica fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Por seu lado, e também segundo o IPMA, o vento atingiu velocidades impressionantes: Lisboa, 129 km/h; Coimbra, 133 km/h; Porto, Serra do Pilar, 167 km.
O Pinhal do Rei, em Leiria, não passou incólume. As fortes rajadas danificaram mais de 300 mil exemplares arbóreos, compreendendo espécies exóticas, raras e seculares.
A hecatombe teve enorme impacto na economia nacional. O Governo abriu um crédito de 20 mil contos para acudir a necessidades urgentes e, nesse âmbito, ainda, criou a Comissão Nacional de Socorros às Vítimas do Ciclone, o que reflecte a gravidade da situação.
Nas respectivas áreas geográficas, os bombeiros estiveram em permanência ao serviço das populações, executando, de acordo com testemunho da época, "intermináveis trabalhos, rudes e violentos", contexto complexo que chegou a vitimar mortalmente um dos seus valorosos voluntários: João Máximo Moreno, Bombeiro n.º 42 de 1.ª Classe, dos Bombeiros Voluntários de Évora (na foto abaixo).
O desaparecimento do referido elemento deu-se quando prestava socorros num imóvel. Após salvar uma mulher, não resistiu aos efeitos de iminente derrocada.

"O processo evolutivo desta depressão pode ser classificado como ciclogénese explosiva, com os valores de pressão a descerem acentuadamente em 24h, nomeadamente em Coimbra, onde a variação da pressão em 24h foi de 48,5 hPa, tendo-se registado entre as 15h do dia anterior e as 15h do dia 15, uma variação de 987,0 hPa a 938,5 hPa, respetivamente (valores de pressão registados ao nível da estação)", explica fonte do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Por seu lado, e também segundo o IPMA, o vento atingiu velocidades impressionantes: Lisboa, 129 km/h; Coimbra, 133 km/h; Porto, Serra do Pilar, 167 km.
O Pinhal do Rei, em Leiria, não passou incólume. As fortes rajadas danificaram mais de 300 mil exemplares arbóreos, compreendendo espécies exóticas, raras e seculares.
A hecatombe teve enorme impacto na economia nacional. O Governo abriu um crédito de 20 mil contos para acudir a necessidades urgentes e, nesse âmbito, ainda, criou a Comissão Nacional de Socorros às Vítimas do Ciclone, o que reflecte a gravidade da situação.
Nas respectivas áreas geográficas, os bombeiros estiveram em permanência ao serviço das populações, executando, de acordo com testemunho da época, "intermináveis trabalhos, rudes e violentos", contexto complexo que chegou a vitimar mortalmente um dos seus valorosos voluntários: João Máximo Moreno, Bombeiro n.º 42 de 1.ª Classe, dos Bombeiros Voluntários de Évora (na foto abaixo).
O desaparecimento do referido elemento deu-se quando prestava socorros num imóvel. Após salvar uma mulher, não resistiu aos efeitos de iminente derrocada.
Entretanto, na capital, viveram-se momentos não menos lancinantes. A ocupação dos bombeiros sapadores e voluntários foi grande e os meios insuficientes, a ponto de serem mobilizados automóveis de praça para funcionarem como improvisados pronto-socorros. Um pouco por todo o lado, e no mais elevado número, havia árvores caídas, telhas e placas de zinco arrancadas, chaminés colapsadas, postes diversos derrubados e vidros partidos. Era, na boca de muitos, o "fim do mundo".
No Hospital de S. José, reforçado na dotação de médicos e enfermeiros, e no Posto de Socorros dos Bombeiros Voluntários da Cruz de Malta, a entrada de sinistrados registou desusado movimento.
Em Santarém, onde do mesmo modo se verificaram estragos significativos, o salão do quartel dos Bombeiros Voluntários serviu de abrigo a muitas famílias que viram as suas residências destruídas.
As próprias instalações dos Bombeiros Voluntários de Sesimbra sofreram danos e a casa-esqueleto para treino e instrução, consubstanciada numa estrutura de madeira, ruiu parcialmente. Caso semelhante aconteceu nos Bombeiros Voluntários de Loures. Outros problemas, porém, foram enfrentados pelo Corpo de Bombeiros daquela vila piscatória, a par da desgraça alheia. Requisitado para transportar os feridos mais graves até Lisboa, de forma a receberem tratamento hospitalar distinto, o respectivo veículo ambulância, mais conhecido por auto-maca, teve de retroceder devido à queda de árvores que obstruíam a estrada.

Ao longo da costa e das margens portuguesas, ninguém conseguiu impedir a força da natureza, repetindo-se os acidentes. Na generalidade dos casos, as suas pavorosas proporções exigiram coragem nos procedimentos, sendo disso exemplo o afundamento, no rio Tejo, de uma embarcação especial, pois que o salvamento "foi feito com água pelo peito, batidos constantemente pelas vagas que atingiam o jardim do Cais do Sodré e sem [este] auxílio a tripulação da draga teria perecido", relatou o Batalhão de Sapadores Bombeiros de Lisboa.
Mas, talvez o facto mais impressionante tenha ocorrido no Mouchão de Alhandra, uma das pequenas ilhas existentes em pleno Tejo, onde ranchos rurais de adultos e crianças trabalhavam na produção agrícola e animal. Nesse dia, o nível da água subiu vertiginosamente e matou dezenas de infelizes, uma vez impossibilitados de se transporem para terra firme. Coube aos Bombeiros Voluntários de Alhandra e a populares, entre os quais o escritor neorrealista Soeiro Pereira Gomes, resgatar muitos camponeses, vivos e já cadáveres. A falta de barcos dificultou a sacrificante tarefa.
As páginas dos jornais e as ondas da rádio fizeram circular as notícias da tragédia, denotando estas, a par do seu carácter informativo, o sentimento de união e apoio mútuo da sociedade portuguesa.
Um dos milhares de bombeiros que abandonaram as suas ocupações e acorreram aos aquartelamentos, escreveu na ocasião que há muitos anos não se registava nada assim, interrogando, a propósito:
"Quem não viu sôbre os telhados de Portugal, pelo menos, um dêsses honrados 'Soldados da Paz', de capacete enfiado na cabeça e de 'tralha' à cintura? Quem não se lembra de ver passar célere uma viatura de bombeiros possuídos de um entusiasmo desmedido, para a defesa das vidas que perigavam e até para resguardo dos haveres que bailavam dentro das próprias residências, impelidas pela fúria dos elementos?"
Por contingências da II Guerra Mundial, ao nível das restrições económicas, os planos de recuperação das zonas afectadas pelo temporal levaram tempo a concretizar-se.
Em Vila Franca de Xira e Alhandra, a experiência vivida pelos Bombeiros locais quando dos trágicos acontecimentos de 15 de Fevereiro de 1941 motivou mais tarde a criação, nas suas estruturas internas, de serviços de socorros a náufragos. O facto ficou a dever-se ao Instituto de Socorros a Náufragos, mediante a cedência de dois barcos salva-vidas de origem estrangeira que haviam sido recolhidos no alto mar pela Marinha Portuguesa e oferecidos àquele organismo por parte dos respectivos armadores.
Em Vila Franca de Xira e Alhandra, a experiência vivida pelos Bombeiros locais quando dos trágicos acontecimentos de 15 de Fevereiro de 1941 motivou mais tarde a criação, nas suas estruturas internas, de serviços de socorros a náufragos. O facto ficou a dever-se ao Instituto de Socorros a Náufragos, mediante a cedência de dois barcos salva-vidas de origem estrangeira que haviam sido recolhidos no alto mar pela Marinha Portuguesa e oferecidos àquele organismo por parte dos respectivos armadores.